domingo, 3 de outubro de 2010

Jerusalém I - Uma Geral

Falar de Jerusalém é falar de muitas coisas. História, religião, política, arquitetura, antiguidade, enfim tem muita água pra passar de baixo da ponte, então começar com "uma geral". Uma impressão visual, inicial e outras postagens virão com aprofundamentos.

E, pra começar, uma panorâmica de uma das cidades mais antigas do mundo.





A cidade por fora dos muros que cercam a velha Jerusalém. A arquitetura é harmoniosa por toda parte.


As vielas da cidade antiga



Pessoas









 O muro das lamentações



O mercado




A sinagoga dentro do mercado


Hoje não vou escrever mais nada. Deixo as imagens falarem por si só.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Yom Kippur - Dia do perdão

O feriado mais especial que já vi.

Av. Dizingof, uma das mais movimentadas de Tel Aviv

O propósito de Yon Kippur é pedir perdão a Deus por todas as ofenças cometidas durante último ano. Acredita-se que, a cada Rosh Hashanah, Deus escreve o destino de cada  pessoa, no Livro na Vida e espera por dez dias, até Yom Kippur, para proferir o veredicto. Os judeus praticantes, durante esses dias fazem um trabalho de reflexão e atenção redobrada aos preceitos religiosos.

O feriado começa antes do pôr do sol, do nono dia do primeiro mês (Tishrei) do calendário judeu. As famílias se reunem e fazem sua última refeição, até as 18h20 do dia seguinte. Quando soará o "shofar"  (uma espécie de berrante) nas sinagogas.

Yom Kippur é um dos feriados mais apreciados e seguidos em Isarel, não apenas os religiosos, mas uma boa porção dos judeus seculares seguem a tradição. Segundo a Wikipedia, em 2008, 63% dos judeus israelenses jejuaram e quase todos vão à sinagoga, mesmo os que não aderem ao jejum.

O que torna esse dia muito especial é o fato de não haver carros circulando nas ruas. Um silêncio pacificador toda conta do ambiente. As crianças saem em bicicleta pelas avenidas, os cachorros são liberados das coleiras e a atmosfera é de paz e liberdade. Muitos vestem branco. Todos vão às ruas para caminhar, ler no banquinho da praça, patinar, andar de skate, o que quiser. Não há perigo. A sensação é do dia em que a terra parou.

Gosto de pensar nesse dia como um dia em que perdão e conciênscia são derramados sobre todos na face da terra. Consciência do sofrimento alheio, de pessoas, de animais, da vida em si. Um dia em que todos percebem um pouco mais a essência da vida e a grande cadeia que nos liga a todos , sentem mais amor.

Este ano resolvi seguir meu companheiro no jejum e não foi fácil, quer dizer, em casa não é tão ruim, mas quando sai para caminhar me senti bem fraquinha. Como um casal de velhinhos sentávamos de pouco em pouco para recuperar as forças. Para mim é como é como uma limpeza do corpo e da alma. também uma forma de valorizar pequenas coisas, como o simples prazer de beber aguá.

Yom Kippur é um feriado legalizado pelo Estado de Israel, ou seja, não há transporte público, todos os estabelecimentos comerciais, incluindo restaurantes devem permanecer fechados, não há transmissão de rádio ou TV. Dirigir não é proibido por lei, mas incrivelmente nem os radicalmente contra religião fazem isso.

A população de Israel durante Yom Kippur se divide em quatro grupo. Os praticantes que vão à Sinagoga quatro vezes, em determinados horários, para rezar. Os que não vão à sinagoga, mas que jejuam e ficam mais sucegados sem usar internet e celular. Os que não jejuam, mas procuram não fazer muito barulho com música e afins e, finalmente, os que não estão nem aí e vão pro parque fazer churrasco, uma grande minoria e, se for em Jerusalém, vão levar uma pedrada com certeza.

Encerramento de Yom Kippur, todos na sinagoga

Um pequeno comentário: Imaginem, em 1973, quando, durante uma calma tarde de Yom Kippur, ouviu -se no ar uma sirene e o rádio voltou a transmitir para anunciar o ataque surpresa por Egito e Síria...

Quer saber mais detalhes?
http://en.wikipedia.org/wiki/Yom_Kippur - em inglês
http://pt.wikipedia.org/wiki/Yom_kippur - português
http://therayve.blogspot.com/search/label/Yom%20Kippur - O blog de uma amiga que postou um vídeo bem legal, dá pra sentir um pouco da atmosfera.
http://logomotora.blogspot.com/2009_09_01_archive.html - Outro blog, de outra amiga. Em espanhol.

Divirtam-se!!!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Beduínos, o povo do deserto


Este post é baseado mais na minha observação que em qualquer pesquisa. 
Bom, quando se fala em beduínos vêm à mente uma imagem de nômades atravessando o deserto em caravanas, sobre seus camelos e carregando tudo quanto é coisa de um oásis para outro.
Isso um dia foi verdade, mas hoje não é mais assim. Pois os beduínos vagavam pelo deserto em busca de lugares que dessem à eles condições de sobrevivência durante algum tempo e, hoje, onde tem condição, tem também investimento privado e, onde tem investimento privado não tem lugar pra beduíno, a não ser como mão de obra barata. E assim é.

Pelo que pude perceber dos beduínos que conheci e com quem conversei, eles hoje vivem em vilas fixas.
Os egípcios consideram os beduínos como uma classe inferior e os beduínos não morrem de amores pelos egípcios. Não é uma coisa exatamente declarada, mas está no ar, algo cultural, já embutido nas consciências.
Na costa norte de Sinai existem várias "Tabas", espécie de pousadas e alguns hotéis. A maioria deles pertence à egípcios, mas são beduínos que tomam conta e fazem o trabalho mais duro.


Ramada, um rapaz de 29 anos, toma conta da Taba em que me hospedei. Muito comunicativo, ele sempre sentava com a gente para fumar cigarros e conversar um pouco. Ele me falou que deixou sua comunidade a treze anos atrás, pois a mulher por quem estava apaixonado, foi prometida à um outro homem. Ele nos contou que entre os beduínos os casamentos são arranjados entre as famílias e os noivos só se falam no dia do casamento, as vezes nem sequer se conhecem. Desrespeitar essa lei é trazer desonra para a família e pode ser motivo para morte. Também o homossexualismo é visto como algo inaceitável e punido com morte. Os beduínos resolvem seus assuntos entre eles mesmos e não há envolvimento policial em suas questões.
Ramada, este mês vai sair de férias, depois de um longo ano de trabalho diário e vai visitar sua família. Ele disse estar construindo uma casa na vila de onde veio e pretende criar animais, assim como seu pai. Ele namora uma mulher Israelense, vinte anos mais velha, bonita e moderna, a quem também conhecemos. Seu dilema é que sua família provalvemente não vai aceitar sua maneira mais contemporânea de viver a vida. Para ele, casar-se com uma mulher que não conhece é difícil de aceitar.
Mesmo com sua maneira mais livre de encarar a vida, Ramada segue alguns preceitos religiosos. Não estava jejuando durante o Ramadã, pois é necessário ter energia para trabalhar na Taba, mas parava nas horas certas para fazer suas orações.


Também estive com Fátima, uma beduína que vende artesanato na praia. Ela  vai de ponta a ponta mostrando seu trabalho para os turistas. Pedindo preços exorbitantes que tem que ser muito bem discutidos antes do fechamento da compra. É um teatro divertido. A comunicação com Fátima foi difícil, pois ela só fala árabe. Nessa área quase todo mundo fala hebraico devido a história que expliquei no outro post sobre Sinai.
Foi difícil tirar uma boa foto dela que nem os olhos queria mostrar para a câmera, mas consegui alguma coisa.


Isso é o que posso contar da minha experiência com os beduínos. 


Para os que sempre querem saber mais, encontrei esse site com uns estudos interessantes sobre esse povo tão misterioso e interessante.
http://www.scribd.com/doc/8070582/Rapid-Lifestyle-Diet-and-Health-Changes-Among-Urban-Bedouin

http://www.scribd.com/doc/19319251/BEDOUIN-STARLORE-IN-SINAI-AND-THE-NEGEV

Rosh HaShanah - Feliz 5771

 Para o povo o judeu, semana passada, entramos no ano 5771. E o que isso significa? Feriado, família reunida e comer coisas específicas para trazer sorte.
Rosh HaShanah significa cabeça do ano, capita, início.
As empresas tradicionalmente presenteiam seus funcionários com cestas cheias de coisinhas gostosas, cartões bônus para jantares e compras.
No jantar de ano novo fazemos um ritual, comendo cada prato e invocando sua simbologia.


Menu:
Sementes de romã - para a saúde (é uma das frutas mais saudáveis que existem) e suas muitas sementes representam fartura, abundância.
Maçã com mel - para adoçar o novo ano.
Cabeça de peixe - para ser sempre cabeça, nunca cauda.
Beterraba - por causa do nome, pois em hebraico é "selek" que também significa, basicamente, vencer o inimigo.
Date (é uma fruta, não consegui descobrir o nome em português e acho que não cresce no Brasil) - também para representar doçura.


Aproveito para fazer um agradecimento especial à família do meu namorado, com quem celebrei o ano novo. Eles sempre me recebem com muito carinho e nenhuma pressão, mesmo eu não sendo judia. São todos muito queridos.


No judaísmo quem carrega a herança judia são as mulheres, portanto se um judeu casar-se com uma não judia, seus filhos não serão considerados judeus, a não ser que a mãe se converta. Isso, muitas vezes é um problema entre famílias e namoradas.


Vale lembrar que em Israel tem gente de todo tipo, assim como em qualquer lugar do mundo. Tem muitos judeus praticantes aqui, mas tem também os que seguem as tradições, mais por um fato cultural que religioso e tem até aqueles que apesar de serem judeus, não estão nem aí para o judaísmo. Mas uma coisa é unânime, todos gostam de um bom feriado.


Setembro é um mês muito especial em Israel. Além de conter o ano novo tem também Yon Kippur e Sukkot. Vou falar sobre todos eles.


Feliz ano novo para todos!

domingo, 12 de setembro de 2010

Sinai

Um paraíso na terra. Isso é Sinai.


 No Brasil, estamos, de certa forma, familiarizados com Monte Sinai, pois foi lá que Moisés subiu as montanhas para falar com Deus, recebeu os dez mandamentos e escreveu tudo numa tábua de pedra. Depois, também abriu o mar vermelho, permitindo que o povo judeu deixasse finalmente o Egito e muitos anos de escravidão.



Sinai é uma península que fica entre o Mar Vermelho e o Canal de Suez.A paisagem é incrível, pois mistura praia, montanha e deserto de uma forma particular. É parte do Egito, mas em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, teve metade de seu território ocupado por Israel.


Os israelenses devolveram as regiões ocupadas para o Egito como parte do acordo de paz, em 1979.
Durante muito tempo a costa de Sinai foi bastante frequentada, principalmente por turistas israelenses, mas o turismo decaiu drasticamente depois de alguns atentados que aconteceram em 2004, deixando quase cem mortos e mais de duzentos feridos.



O governo israelense sempre lança comentários recomendando aos cidadãos que não frequentem o lugar, mas isso se deve também á uma questão econômica, pois é melhor se o dinheiro for gasto em Israel mesmo.


O que ví com meus próprios olhos foi um paraíso, um oásis em meio ao deserto e, deserto. Dormi debaixo do céu estrelado, despertei com o calor do sol, comi uma comida simples e caseira, li "Cem anos de solidão" que por sinal, não podia ser um livro melhor para ser lido alí e tive o prazer de nadar no meio dos corais.


Shakshuka, um prato muito comum em Israel. Ovos fritos no molho de tomate e alguns vegetais de acordo com a preferência, queijo egípcio (Feta), a famosa salada israelense e pão sírio. Uma delícia.


Depois o café que é servido bem bonitinho no estilo árabe com pózinho no fundo. Se soubesse ler a sorte...
Snorkeling, um festival de cores, vida, vida, vida! Que ousadia o ser humano pensar que pode usurpar esse tesouro para pendurá-lo no pescoço ou onde for. Fiquei tão encantada... e ainda não entendo o que há de errado com o mundo em que melhor é possuir um objeto morto que deixá-lo com vida em seu lugar.


Mas este post não acaba aqui. Quero falar um pouco sobre os beduínos e para não me alongar demais, como fiz com Yaffo, vou continuar daqui a dois dias. Por enquanto, se quiser saber mais dê uma olhada na enciclopédia.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Yaffo

Aqui está o post sobre Yaffo que havia prometido.
Yaffo é a cidade antiga que foi adicionada à Tel Aviv. Uma vizinhança árabe com milênios de história nas costas.

Yaffo vista de longe.

Tem duas formas de chegar lá. Se for com um veículo, Você dá de cara com a torre do relógio. Mas também dá pra chegar a Yaffo caminhando pela beira mar ou em bicicleta. Vendo a cidade se aproximar lentamente.



A torre do relógio, paisagem vista quando se chega a Yaffo.

Hoje em dia, árabes, judeus, pessoas comuns levam suas vidas normalmente, pisando nas mesmas ruas que personalidades como os Reis David Salomão e Ricardo Coração de Leão pisaram.

O lugar passou por uma série de períodos diferentes.
A enciclopédia diz que o porto de Yaffo está em uso desde a Era do Bronze.



Diz a lenda que foi conquistada pelo Faraó Thutmose III por volta de 1440 AC e ficou sob o domínio egípcio por uns quase 400 anos.

Se você vier pela costa vai passar por umas construções imponentes (restaurações do que já existia há muito tempo), pelo porto até chegar numa escada com uma plaquinha: Para Yaffo antiga.




Ao subir esses degraus você se depara com uma Yaffo antiga super bem cuidada, cheia de arte. Tudo é lindo e bem cuidado e algumas coisas se percebem bastante consumidas pelo tempo e pela maresia.




Mas voltando a história... É claro que Yaffo também está na bíblia. Foi através de seu porto que chegaram os cedros do Líbano para a construção do templo de Salomão e desse mesmo porto partiu o profeta Jonas e foi engolido por um peixe, dentro do qual ficou por três dias.



Mas enfim... depois, foi Senaqueribe, o rei da Assíria quem tomou de posse o lugar e dessa vez, Yaffo passou da mão dos judeus para os assírios e destes para os babilônicos, e os persas e os fenicios. Todo mundo tirou sua casquinha. Alexandre, O Grande, não podia ficar de fora e também passou por ali, até que vieram os romanos e puseram fogo em tudo, os judeus se revoltaram e muita gente perdeu a vida.



No período medieval Yaffo também foi um lugar importante para romanos e bizantinos até que foi conquistada pelo árabes em 636 DC e ficou sob as leis islâmicas por um tempo.



Uma cruz meio fora de lugar?




Não. É a embaixada do Vaticano. Em Tel Aviv nunca vi organizações católicas. Por isso o estranhamento.


Depois vieram os cruzados procurar o santo graal por ali e foi assim que Ricardo Coração de Leão entrou nessa história cercando a cidade, até que chegou Saladim, o famoso rei de origem curda que liderou os muçulmanos contra os cruzados e tomou a cidade para si, por volta de 1191. Depois de uns cem anos os cruzados se reestabeleceram, mas depois vieram os egípcios liderados por Baibars, em 1268. Finalmente, no século XIV a cidade foi totalmente destruída por temor aos cruzados que deviam barbarizar total. Um viajante chamado Cotwyk deixou notas dizendo que não ficou pedra sobre pedra.


Passemos então, ao período Otomano. Em 1515 Yaffo foi conquistada pelo Sultão Selim I, e assim, teve início o período. Peregrinos cristãos rumo à Jerusalém e Galiléia voltaram a ser vistos de passagem, mas quase ninguém morava por ali. Haviam muitos piratas na área e trazer mercadoria pela costa de Yaffo tornara-se perigoso.
Na segunda década do século XIX, uma sinagoga e uma hospedagem para judeus foram construídas, teve início um período de estabilidade até que, em 1832 Muhammed Ali, do Egito, conquistou a cidade. O progresso continuou e se faziam muitos negócios com a marinha francesa e inglesa e, finalmente, em 1872 os muros da cidade foram derrubados.

Napoleão I, também esteve lá. Em 1799 saqueou a cidade, matou um monte de gente e foi-se embora.



Este é um monumento em homenagem a fé de Jacó, o sacrifício de Isaque e a caída de Jericó.

Mas então, já estou ficando cansada da história de Yaffo. Quando comecei a ler não sabia que tanta coisa aconteceu por lá, enfim... vou encurtar.



No início do século XX foi a vez dos britânicos, nesse período alguns judeus moravam em Yaffo, mas houveram umas revoltas árabes e ficou mais seguro mudar pra Tel Aviv, ou seja, a cidade estava, predominantemente, ocupada por árabes. Nesta época tudo estava confuso, haviam greves e protestos. Os árabes não estavam satisfeitos com o controle britânico.

Nesta época, não havia Israel, era Palestina, e houve uma revolta que durou de 1936 a 39.  Uma super greve teve início no porto de Yaffo paralisando a economia. O bicho pegou e as autoridades bloquearam todas as saídas, cortaram água, luz e tudo que desse condições ao povo de sobreviver.

Depois que os britânicos fizeram tudo que tinha que fazer nas terras orientais, era hora de devolver esse território para seu povo e começaram as discussões para ver o que ficava com o Estado Judeu e o que com Palestina. Muitas bombas foram disparadas e muito sangue derramado.


Depois de tanta gente importante, tanta confusão, ruína e sangue, parece que tudo se acalmou. Yaffo é ponto turístico com algumas partes super cuidadas pela prefeitura. Mas na verdade, se você se embrenhar pelas ruas, vai perceber que os árabes vivem em condições inferiores e vivem acusando seus primos da tal judaisação, ou seja, tentativas de encher de judeus as áreas árabes.


Espero que tenham gostado desse resumo dos longos anos de Yaffo. Para saber tudo com detalhes acesse:http://en.wikipedia.org/wiki/Jaffa