quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Beduínos, o povo do deserto


Este post é baseado mais na minha observação que em qualquer pesquisa. 
Bom, quando se fala em beduínos vêm à mente uma imagem de nômades atravessando o deserto em caravanas, sobre seus camelos e carregando tudo quanto é coisa de um oásis para outro.
Isso um dia foi verdade, mas hoje não é mais assim. Pois os beduínos vagavam pelo deserto em busca de lugares que dessem à eles condições de sobrevivência durante algum tempo e, hoje, onde tem condição, tem também investimento privado e, onde tem investimento privado não tem lugar pra beduíno, a não ser como mão de obra barata. E assim é.

Pelo que pude perceber dos beduínos que conheci e com quem conversei, eles hoje vivem em vilas fixas.
Os egípcios consideram os beduínos como uma classe inferior e os beduínos não morrem de amores pelos egípcios. Não é uma coisa exatamente declarada, mas está no ar, algo cultural, já embutido nas consciências.
Na costa norte de Sinai existem várias "Tabas", espécie de pousadas e alguns hotéis. A maioria deles pertence à egípcios, mas são beduínos que tomam conta e fazem o trabalho mais duro.


Ramada, um rapaz de 29 anos, toma conta da Taba em que me hospedei. Muito comunicativo, ele sempre sentava com a gente para fumar cigarros e conversar um pouco. Ele me falou que deixou sua comunidade a treze anos atrás, pois a mulher por quem estava apaixonado, foi prometida à um outro homem. Ele nos contou que entre os beduínos os casamentos são arranjados entre as famílias e os noivos só se falam no dia do casamento, as vezes nem sequer se conhecem. Desrespeitar essa lei é trazer desonra para a família e pode ser motivo para morte. Também o homossexualismo é visto como algo inaceitável e punido com morte. Os beduínos resolvem seus assuntos entre eles mesmos e não há envolvimento policial em suas questões.
Ramada, este mês vai sair de férias, depois de um longo ano de trabalho diário e vai visitar sua família. Ele disse estar construindo uma casa na vila de onde veio e pretende criar animais, assim como seu pai. Ele namora uma mulher Israelense, vinte anos mais velha, bonita e moderna, a quem também conhecemos. Seu dilema é que sua família provalvemente não vai aceitar sua maneira mais contemporânea de viver a vida. Para ele, casar-se com uma mulher que não conhece é difícil de aceitar.
Mesmo com sua maneira mais livre de encarar a vida, Ramada segue alguns preceitos religiosos. Não estava jejuando durante o Ramadã, pois é necessário ter energia para trabalhar na Taba, mas parava nas horas certas para fazer suas orações.


Também estive com Fátima, uma beduína que vende artesanato na praia. Ela  vai de ponta a ponta mostrando seu trabalho para os turistas. Pedindo preços exorbitantes que tem que ser muito bem discutidos antes do fechamento da compra. É um teatro divertido. A comunicação com Fátima foi difícil, pois ela só fala árabe. Nessa área quase todo mundo fala hebraico devido a história que expliquei no outro post sobre Sinai.
Foi difícil tirar uma boa foto dela que nem os olhos queria mostrar para a câmera, mas consegui alguma coisa.


Isso é o que posso contar da minha experiência com os beduínos. 


Para os que sempre querem saber mais, encontrei esse site com uns estudos interessantes sobre esse povo tão misterioso e interessante.
http://www.scribd.com/doc/8070582/Rapid-Lifestyle-Diet-and-Health-Changes-Among-Urban-Bedouin

http://www.scribd.com/doc/19319251/BEDOUIN-STARLORE-IN-SINAI-AND-THE-NEGEV

2 comentários:

  1. Há um tempo não pintava por aqui, adorei o bate-papo com Ramada, parece até que conversei com ele enquanto lia. beijo-carinho.

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